Habitantes!

19 de março de 2009

O homem neoliberal

Tomei conhecimento do texto a seguir no orkut de um novo amigo. Ele é parte de um artigo escrito por Luciano Trigo, escritor, jornalista e editor de livros, que foi publicado no O Globo, em suas versões digital e impressa. Preparem seus corações! Sob o título "Uma biografia não-autorizada do neoliberalismo", o colunista sintetiza uma das mais apropriadas definições do caráter de muitos brasileiros:

“(...)Mas, de todas as mudanças provocadas pelo ciclo neoliberal que ora dá sinais de exaustão, a mais profunda, aquela que causou estragos maiores, foi a que aconteceu no interior de cada indivíduo, a corrupção da alma do homem sob o neoliberalismo. Também deve ser difícil acreditar, mas a ganância, o egoísmo, a cobiça e a vontade de se dar bem a curto prazo e a qualquer preço, passando por cima dos outros e de qualquer freio ético, eram até mal vistos. Mentir e trapacear para subir na vida eram sinais de deficiência de caráter. Idéias e ações eram medidas por outro metro, não pelo puro resultado monetário que proporcionavam. Em suma, o mau-caratismo, hoje transformado em virtude, era moralmente condenado.

Ao homem neoliberal nada disso importa, pois ele sabe que o mundo contemporâneo flexibiliza todos os valores. Só não perdoa o fracasso. Sua ética neodarwiniana é a da competição desregrada: o ganhador leva tudo, ignorando-se custos sociais e limites morais: os meios, o aqui e o agora, justificam os fins, as conseqüências sombrias que nos aguardam no futuro, em custos sociais e destruição do ambiente. O certo e o errado são medidos pelo desempenho, deixaram de ser valores abstratos. O melhor caminho é sempre seguir a direção do vento.

A felicidade, aliás, virou uma obrigação individual — medida, naturalmente, em índices de consumo. Nossa felicidade deve passar por cima das mazelas sociais, dos sofrimentos alheios, da mesma forma que o imperativo do lucro fácil despreza prejuízos causados a terceiros, incluindo as gerações futuras. Elas que se virem. Neste novo modelo — sutilmente coercitivo — de comportamento, os bem-sucedidos têm direito à insensibilidade e à irresponsabilidade, e quem não consegue ser feliz é simplesmente um incompetente. Os excluídos deixaram de ser vítimas inocentes, aliás: são agora culpados de sua própria miséria. Eles, os não-consumidores, nem entram mais na pauta de discussões de quem manda de verdade no planeta”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa que honra... É bom perceber que tem pessoas que pensam como a gente. Muito válida essa sua contribuição com a propagação do texto. Acho que fiz uma grande amiga.

Bjs....
Thadeu