Já repararam o quanto a gente se adapta e acabamos nos acostumando com a realidade em que estamos inseridos? Isso tem o lado bom e o ruim, como o abacaxi do post anterior, mas hoje falarei da parte chata.
Na última segundona brava, a Globo exibiu o filme Borat, um longa no mínimo estranho. A primeira parte, única que consegui assistir, contava a história de um repórter de TV vindo Casaquistão, que viaja aos EUA para fazer uma reportagem sobre os hábitos dos norte-americanos. Borat, o protagonista, de repente se depara com o American Way numa estranha experiência. De um insight baseado nesse filme maluco, quero especular a respeito dessas realidades opostas e desse estranhamento que sentimos em relação ao desconhecido. Mais: quero que percebam o quanto o cotidiano passa despercebido, uma vez que estamos imersos nele.
Borat, quando chegou à America, se deparou com várias novas coisas, dentre elas uma escada rolante e um elevador. Entenderem as disparidades enfrentadas e o choque tomado pelo repórter em questão?
Agora vamos hipoteticamente imaginar esse protagonista aqui no Brasil. Como ele reagiria ao saber que aqui filhos matam os pais? Que aqui existe policiais capazes de deixar uma vítima morrer sem socorro e, além de liberar os assassinos, roubar os pertences de quem ainda agoniza no chão? Que aqui se assalta passageira de avião que morreu durante o vôo? Que bandido aqui tem armamento melhor que o da polícia? Que políticos, além de roubarem o dinheiro do povo, debocham da opinião pública e, em casos extremos, se comparam com Jesus? Que pessoas bêbadas dirigem e matam? Que não olhamos nos olhos de quem cruza o nosso caminho? Que sentimos medo uns dos outros? Que tem gente que vota em troca de favores pessoais? Que pais chamam a polícia para prender filhos viciados, que não encontram tratamento no serviço público de saúde? Que menores cometem crimes de maiores e não respondem por isso? Que alunos agridem professores durante as aulas? Que aqui se desmata e se mata apenas por dinheiro (ou por nada)?
O que mais poderia espantar o protagonista em questão? Porque a gente não se assusta com mais nada disso.