Em seu livro “Eu, prisioneira das Farc”, Clara Rojas conta o que viveu nos seis anos em que ficou cativa. Ela foi seqüestrada pelas Farc junto com sua amiga Ingrid Betancourt, que era então candidata à presidência da Colômbia e Clara era diretora de sua campanha.
Motivada principalmente pelo relato de uma experiência de sobrevivência frente ao seqüestro e à selva, me embrenhei nessa leitura. O anúncio da gravidez de Clara Roja e do nascimento de seu filho nessa situação extremamente adversa, também aguçou minha curiosidade.
O martírio da autora é inquestionável, pois além de privada de sua liberdade, enfrentou também os desafios impostos pela selva. Passar por uma situação dessas é difícil até de se imaginar – ou impossível. Insetos, barro, caminhadas constantes, pouca comida, angustia, tempestades, fugas frustradas, a iminência da morte; esses foram alguns dos ingredientes dessa jornada de Clara Rojas e de tantos outros cativos das Farc.
Lendo o relato detalhado da autora, desde o início do livro, senti falta de grandes personagens em sua história. Principalmente com sua então amiga Ingrid Betancour, faltavam diálogos, confidências e companheirismo. Clara pouco falava da relação das duas e, inicialmente, pensei que estava preservando a amiga, já que o livro é uma exposição particular do acontecido. Me enganei. Com o passar dos dias a autora foi se afastando de Ingrid, o que podia ser uma questão particular às duas. Mas não, com o correr da narrativa Clara não se aproximou de mais pessoas e se mostrou, na minha opinião, uma pessoa individualista, mimada e que se vitimizava o tempo todo, mesmo dedicando um capítulo ao tema amizade. Eis alguns trechos para ilustrar essa minha impressão:
“Sempre me chamou a atenção o fato de as panelas em que lavavam os alimentos estarem limpas. Para mim, isso era vital”.
“Quando a arepa, a sopa ou até o chocolate estavam gordurosos – o que ocorria na maioria das vezes -, eu nem sequer os provava”.
“... nenhum (dos outros prisioneiros) teve a idéia de pedir que me libertassem para que eu pudesse das a luz em condições mais aceitáveis...nenhum deles também tentou me ajudar ou me apoiar...”
“Essa atitude sua (de Ingrid), tão fria, sem dúvida criou um tipo de comportamento nas outras pessoas do grupo, que adotaram, e inclusive mantêm hoje em dia, certa agressividade comigo, pensando que assim ganham o favor ou a simpatia de Ingrid”.
“Deixem-me em paz, eu respondo por meu bebê”.
“Algumas mulheres se comportaram como se a situação não tivesse nada a ver com elas, apesar de também serem mães e poderem entender o que eu estava passando. Não me deram uma oportunidade de confiar nelas, algo que eu teria agradecido”.
“No cativeiro eu me sentia muito sozinha”.
“Eu tinha a impressão de que muitos dos meus companheiros preferiam que não me libertassem, e às vezes cheguei a sentir que queriam me comer viva”.
“ Só um de meus companheiros se ofereceu para carregar minhas coisas até a porta... Alguns entraram no banheiro para não ter de se despedir, outros não foram capazes nem de se levantar e largar o cigarro para se despedir decentemente”.
A impressão que eu tinha era: tudo e todos contra Clara Rojas. Nessas circunstâncias, o grande amparo que qualquer um precisava e que podia tonar esse inferno menos penoso, estava bem ali, ao alcance de todos: os cativos tinham uns aos outros. Eram dezenas de pessoas que não viraram personagens da história da autora. Não percebi a dedicação de Clara em se aproximar e estabelecer relações afetivas com as outras pessoas. Parece-me inclusive que ela destinava mais atenção aos guerrilheiros que aos seus companheiros de clausura. A síndrome de Estocolmo talvez explique essa atitude, apesar de Clara tê-la negado no final do livro.
Penso que de repente posso ter esperado de uma sobrevivente, a perfeição, coisa que todos nós estamos longe de atingir. Mas com atitudes egoístas, Clara piorou aquilo que de terrível estava acontecendo em sua vida. Quando chegou o momento dela falar de sua gravidez, episodio que aconteceu durante o cativeiro, Clara decidiu não tornar público o que aconteceu e ainda se queixou das especulações que obviamente surgiram a respeito. Ora, se tudo aconteceu durante os seis anos que foi mantida presa pelas Farc, é uma lástima esses fatos não estarem presentes em sua autobiografia. Isso, para nós leitores, seria muito mais interessante de ler do que as milhares de caminhadas e queixas da autora.
Já a determinação de Clara em se manter viva, sim, é uma grande lição a ser tirada. Também ressalto aqui sua disciplina, coragem, garra e perseverança. Esse é um livro que revela a fragilidade humana, mostra pessoas em um teste de capacidade de adaptação ao intolerável e nos faz pensar no quanto somos capazes de promover tanto o bem quanto o mal.
Nada é por acaso nessa vida; tanto eu quanto à autora concordamos nesse ponto. Só que devemos aprender as lições que advém desses desafios, além de apenas sobreviver a eles. Em uma de suas canções, Maria Betânia canta: "A arte de sorrir, cada vez que o mundo diz não".
Motivada principalmente pelo relato de uma experiência de sobrevivência frente ao seqüestro e à selva, me embrenhei nessa leitura. O anúncio da gravidez de Clara Roja e do nascimento de seu filho nessa situação extremamente adversa, também aguçou minha curiosidade.
O martírio da autora é inquestionável, pois além de privada de sua liberdade, enfrentou também os desafios impostos pela selva. Passar por uma situação dessas é difícil até de se imaginar – ou impossível. Insetos, barro, caminhadas constantes, pouca comida, angustia, tempestades, fugas frustradas, a iminência da morte; esses foram alguns dos ingredientes dessa jornada de Clara Rojas e de tantos outros cativos das Farc.
Lendo o relato detalhado da autora, desde o início do livro, senti falta de grandes personagens em sua história. Principalmente com sua então amiga Ingrid Betancour, faltavam diálogos, confidências e companheirismo. Clara pouco falava da relação das duas e, inicialmente, pensei que estava preservando a amiga, já que o livro é uma exposição particular do acontecido. Me enganei. Com o passar dos dias a autora foi se afastando de Ingrid, o que podia ser uma questão particular às duas. Mas não, com o correr da narrativa Clara não se aproximou de mais pessoas e se mostrou, na minha opinião, uma pessoa individualista, mimada e que se vitimizava o tempo todo, mesmo dedicando um capítulo ao tema amizade. Eis alguns trechos para ilustrar essa minha impressão:
“Sempre me chamou a atenção o fato de as panelas em que lavavam os alimentos estarem limpas. Para mim, isso era vital”.
“Quando a arepa, a sopa ou até o chocolate estavam gordurosos – o que ocorria na maioria das vezes -, eu nem sequer os provava”.
“... nenhum (dos outros prisioneiros) teve a idéia de pedir que me libertassem para que eu pudesse das a luz em condições mais aceitáveis...nenhum deles também tentou me ajudar ou me apoiar...”
“Essa atitude sua (de Ingrid), tão fria, sem dúvida criou um tipo de comportamento nas outras pessoas do grupo, que adotaram, e inclusive mantêm hoje em dia, certa agressividade comigo, pensando que assim ganham o favor ou a simpatia de Ingrid”.
“Deixem-me em paz, eu respondo por meu bebê”.
“Algumas mulheres se comportaram como se a situação não tivesse nada a ver com elas, apesar de também serem mães e poderem entender o que eu estava passando. Não me deram uma oportunidade de confiar nelas, algo que eu teria agradecido”.
“No cativeiro eu me sentia muito sozinha”.
“Eu tinha a impressão de que muitos dos meus companheiros preferiam que não me libertassem, e às vezes cheguei a sentir que queriam me comer viva”.
“ Só um de meus companheiros se ofereceu para carregar minhas coisas até a porta... Alguns entraram no banheiro para não ter de se despedir, outros não foram capazes nem de se levantar e largar o cigarro para se despedir decentemente”.
A impressão que eu tinha era: tudo e todos contra Clara Rojas. Nessas circunstâncias, o grande amparo que qualquer um precisava e que podia tonar esse inferno menos penoso, estava bem ali, ao alcance de todos: os cativos tinham uns aos outros. Eram dezenas de pessoas que não viraram personagens da história da autora. Não percebi a dedicação de Clara em se aproximar e estabelecer relações afetivas com as outras pessoas. Parece-me inclusive que ela destinava mais atenção aos guerrilheiros que aos seus companheiros de clausura. A síndrome de Estocolmo talvez explique essa atitude, apesar de Clara tê-la negado no final do livro.
Penso que de repente posso ter esperado de uma sobrevivente, a perfeição, coisa que todos nós estamos longe de atingir. Mas com atitudes egoístas, Clara piorou aquilo que de terrível estava acontecendo em sua vida. Quando chegou o momento dela falar de sua gravidez, episodio que aconteceu durante o cativeiro, Clara decidiu não tornar público o que aconteceu e ainda se queixou das especulações que obviamente surgiram a respeito. Ora, se tudo aconteceu durante os seis anos que foi mantida presa pelas Farc, é uma lástima esses fatos não estarem presentes em sua autobiografia. Isso, para nós leitores, seria muito mais interessante de ler do que as milhares de caminhadas e queixas da autora.
Já a determinação de Clara em se manter viva, sim, é uma grande lição a ser tirada. Também ressalto aqui sua disciplina, coragem, garra e perseverança. Esse é um livro que revela a fragilidade humana, mostra pessoas em um teste de capacidade de adaptação ao intolerável e nos faz pensar no quanto somos capazes de promover tanto o bem quanto o mal.
Nada é por acaso nessa vida; tanto eu quanto à autora concordamos nesse ponto. Só que devemos aprender as lições que advém desses desafios, além de apenas sobreviver a eles. Em uma de suas canções, Maria Betânia canta: "A arte de sorrir, cada vez que o mundo diz não".
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PS: Quem não clicou na figura acima, não deixe de acessar o site que da detalhes do livro. O endereço é http://www.euprisioneiradasfarc.com.br/default.asp .
Lá você pode ler mais trechos, baixar capítulo, ver vídeo, etc.
8 comentários:
Como são legais as pessoas sinceras e verdadeiras né
bjo
Olá Thaís!
Bela dica..vou comprar o livro..esse relato comovente de Clara Rojas, tbm daria um excelente filme
Abraços e ótimo fds!
OLÁ LINDA.
PODERIAM FAZER UM FILME SOBRE ESSE DRAMA. AQUI FIZERAM UM FILME COM O TÍTULO. UM VAGABUNDO GOVERNANDO UM PAÍS.
BJS DO BETO.
Thaís!
Convenhamos que se o interesse da autora era transmitir o "seu terror", acho que em parte ela conseguiu. Ou pelo menos induziu o desejo que o livro acabasse rápido... rs
Sucesso Capi...!!
bjim!!
THAÍS, vc prisioneira? nempensar! (rsrsrs). Há um premio p/vc.Passe lá. (O INDIGNADO).
Oi Thaís,
Vim te convidar a visitar o blog Mosaicos do Sul! Aproveita e pega lá um mimo para trazer para cá.
Abraço,
Cacau
Davi, quem fala o que quer....rsrs
Rodrigues, não estou certa de que daria um filme, será?
Beto, esse filme do vagabundo faria mais sucesso...kkkk
Myriam, o terror ficou explícito mesmo...mas o pior é que o terror era repetitivo...ai ninguém aguenta!
Indignado, Deus me livre!!! Vou lá buscr meu prêmio...
Claudia, em reve farei uma visita....me aguarde!
Beijos a todos
Gostei muito de ler suas impressões sobre o livro, estou a espera dele porque não me aguento de curiosidade. Li o livro da Ingrid e fiquei com uma impressão ruim de Clara e pelo jeito, comentários sobre o livro de Clara, Ingrid está mais próxima da verdade.
abçs
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